From Indigenous Peoples in Brazil
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Notícias
Mundo precisa compreender o que acontece na amazônia, diz liderança indígena sobre a COP30
13/11/2025
Autor: TUXÁ, Dinamam
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Mundo precisa compreender o que acontece na amazônia, diz liderança indígena sobre a COP30
Dinamam Tuxá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, concedeu entrevista no Espaço Folha
Representante da maior entidade indígena do país diz que demarcação de terras está no centro da pauta buscada em Belém
13/11/2025
Jorge Abreu
As demandas dos povos originários de cada país precisam ser atendidas para frear o avanço das mudanças climáticas, diz Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), em entrevista à Folha.
O advogado participa da COP30, a conferência sobre mudanças climáticas da ONU , que começou na segunda-feira (10), em Belém. Nesta edição, é esperada a maior participação indígena da história das cúpulas.
Tuxá concedeu uma entrevista no Espaço Folha, em Belém, na qual discorreu sobre a luta dos povos indígenas em defesa do clima e sua expectativa para os resultados da COP30.
Como foi a preparação do movimento indígena para a COP30?
Desde o anúncio de Belém como sede da COP30, nós construímos proposituras para contribuir com o debate em torno das negociações. Mas sempre pautando no centro das articulações a demarcação de terras indígenas como uma política de indicação estratégica para conter a crise climática.
Então, de forma muito organizada, conseguimos construir não só articulações, mas também incidências importantes com o movimento indígena para propostas claras e consolidadas.
A Apib esteve presente em outras edições da conferência. Como tem sido o avanço dos diálogos? E o que espera dessa COP na amazônia?
A COP na amazônia é um marco histórico e tem um simbolismo muito importante. O mundo discute o bioma, mas o mundo precisa compreender o que está acontecendo na amazônia diante da mineração e exploração de petróleo. Além disso, destacamos também os outros biomas brasileiros, que precisam ser incluídos na pauta das negociações do clima, entre eles caatinga, mata atlântica, cerrado, pantanal e pampa.
Em abril, o movimento indígena lançou uma proposta de NDC, o termo do Acordo de Paris que representa as metas climáticas de cada país. Quais são as principais demandas?
O movimento indígena brasileiro construiu a nossa proposta de NDC, na qual trouxemos sete eixos, e a demarcação de terras indígenas como demanda central. Também estamos discutindo transição energética justa com o fim da exploração de combustível fóssil.
Trazemos ainda a discussão sobre o papel dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas na preservação da natureza, o financiamento climático direto para as organizações e o debate sobre a proteção das lideranças indígenas, que são ameaçados e mortos por proteger seus territórios.
Como a demarcação de terras indígenas contribui para a preservação dos biomas?
Os povos indígenas hoje protegem 82% da biodiversidade do mundo. Então, o nosso modo de vida, a nossa cosmovisão de vida, faz com que a nossa relação com os nossos territórios seja uma relação de proteção, de cuidado.
Primeiramente, é para a nossa sobrevivência. Se nós protegemos o nosso território, consequentemente, há um benefício humanitário. As áreas protegidas estão fazendo enfrentamento, de fato, às mudanças climáticas.
Qual a importância do financiamento climático para os povos indígenas em sua gestão dos territórios e para a proteção dos biomas brasileiros?
Há várias iniciativas sobre financiamento em andamento. Em Glasgow, na COP26, foi anunciado o compromisso de US$ 1,7 bi para financiamento climático para os povos indígenas. Infelizmente, esse financiamento não chegou.
Mas, mesmo assim, nós continuamos fazendo o que nós sempre fizemos, que é a proteção dos nossos territórios. O financiamento é para impulsionar o trabalho que já fazemos de forma natural, porque é para a nossa sobrevivência.
Então, o "pledge" [promessa] anunciado em Glasgow refletiu o ponto positivo, um anúncio, o olhar dos financiadores para aqueles que fazem enfrentamento às mudanças climáticas: os povos indígenas e as comunidades tradicionais.
Agora, nós chegamos a um ponto mais crítico do que era a COP26 em termos climáticos. É necessário criar ações e medidas mais eficazes e potencializar as ações daqueles que comprovadamente já fazem isso de forma muito eficaz. A resposta somos nós.
Os povos indígenas pedem que suas vozes sejam atendidas, com poder de decisão. A ONU deveria mudar o formato da conferência do clima?
Nós acreditamos que a COP não tem dado certo, em termos de as metas não serem cumpridas, porque os negociadores são pessoas técnicas, que não têm vivência no território e não conseguem visualizar o impacto das mudanças climáticas na prática.
Eles olham os impactos por satélite, por livros, por bibliografias, fazem leituras. Os povos indígenas observam os rios serem modificados, o período de chuvas é outro. As queimadas que estão acontecendo mudam os fluxos das águas e os espaços que estão contaminados. Experiências que nenhum negociador que senta nas negociações, naquele espaço técnico e político, tem.
Então, trazer os povos indígenas e outros segmentos para as negociações é [necessário] para eles conseguirem visualizar, na prática, a experiência que nós temos. É preciso colocar as pessoas certas, quem passa por esse processo, de mudanças climáticas na prática, para as negociações e as metas climáticas que estão sendo construídas, pois somos nós que pagamos a conta da crise climática.
O governo federal autorizou a pesquisa de petróleo na margem equatorial, no Amapá. Como o movimento indígena vê essa medida vinda do mesmo governo que preside a COP30?
O Brasil vive um contexto muito contraditório. Nós entendemos que tem uma relação muito forte com a atuação do Congresso Nacional, mas também tem a decisão política do presidente Lula, do Executivo. Então, ao mesmo tempo que ele faz um discurso de liderança global pelo clima, tem uma articulação para exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
É uma contradição. E nós temos dito isso em todos os espaços. O governo não pode ser um líder global pelo ambiente autorizando a mineração e a exploração de petróleo na amazônia. Então, a gente entende que o discurso é uma coisa e na prática é outra.
Como seria uma transição energética justa para os povos indígenas?
A transição energética, para ser justa, tem que ter a participação popular. Hoje, quem faz essa discussão da transição energética são as grandes corporações. Inclusive, quem diz que lidera é a Petrobras no Brasil. Uma contradição.
Transição energética tem que dar às pessoas acesso a essa energia. Nós vimos várias comunidades que não têm sequer acesso à energia serem impactadas com grandes empreendimentos.
Discutir transição energética é acabar com a exploração de energia fóssil primeiramente. E pensar em alternativas de energia limpa que gerem menor impacto para a população, e que ela tenha acesso a essas políticas.
Na COP30, assim como em outras COPs, há uma presença grande de empresas com histórico de impacto a povos indígenas. Como avalia essa situação?
Infelizmente é uma realidade. A indústria petroleira teve uma presença muito forte nas três últimas COPs, que foram em países [Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão] que dependem do petróleo e fazem um grande lobby das empresas que geram impactos da emissão de gás carbônico e contribuem com o aquecimento global.
A indústria petroleira tem sido a maior delegação das COPs. Se fosse um país, seria a maior delegação. Entendemos que a conferência é um espaço democrático, com pontos favoráveis e contra, mas não pode ter uma disparidade de participação.
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/11/mundo-precisa-compreender-o-que-acontece-na-amazonia-diz-lideranca-indigena-sobre-a-cop30.shtml
Dinamam Tuxá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, concedeu entrevista no Espaço Folha
Representante da maior entidade indígena do país diz que demarcação de terras está no centro da pauta buscada em Belém
13/11/2025
Jorge Abreu
As demandas dos povos originários de cada país precisam ser atendidas para frear o avanço das mudanças climáticas, diz Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), em entrevista à Folha.
O advogado participa da COP30, a conferência sobre mudanças climáticas da ONU , que começou na segunda-feira (10), em Belém. Nesta edição, é esperada a maior participação indígena da história das cúpulas.
Tuxá concedeu uma entrevista no Espaço Folha, em Belém, na qual discorreu sobre a luta dos povos indígenas em defesa do clima e sua expectativa para os resultados da COP30.
Como foi a preparação do movimento indígena para a COP30?
Desde o anúncio de Belém como sede da COP30, nós construímos proposituras para contribuir com o debate em torno das negociações. Mas sempre pautando no centro das articulações a demarcação de terras indígenas como uma política de indicação estratégica para conter a crise climática.
Então, de forma muito organizada, conseguimos construir não só articulações, mas também incidências importantes com o movimento indígena para propostas claras e consolidadas.
A Apib esteve presente em outras edições da conferência. Como tem sido o avanço dos diálogos? E o que espera dessa COP na amazônia?
A COP na amazônia é um marco histórico e tem um simbolismo muito importante. O mundo discute o bioma, mas o mundo precisa compreender o que está acontecendo na amazônia diante da mineração e exploração de petróleo. Além disso, destacamos também os outros biomas brasileiros, que precisam ser incluídos na pauta das negociações do clima, entre eles caatinga, mata atlântica, cerrado, pantanal e pampa.
Em abril, o movimento indígena lançou uma proposta de NDC, o termo do Acordo de Paris que representa as metas climáticas de cada país. Quais são as principais demandas?
O movimento indígena brasileiro construiu a nossa proposta de NDC, na qual trouxemos sete eixos, e a demarcação de terras indígenas como demanda central. Também estamos discutindo transição energética justa com o fim da exploração de combustível fóssil.
Trazemos ainda a discussão sobre o papel dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas na preservação da natureza, o financiamento climático direto para as organizações e o debate sobre a proteção das lideranças indígenas, que são ameaçados e mortos por proteger seus territórios.
Como a demarcação de terras indígenas contribui para a preservação dos biomas?
Os povos indígenas hoje protegem 82% da biodiversidade do mundo. Então, o nosso modo de vida, a nossa cosmovisão de vida, faz com que a nossa relação com os nossos territórios seja uma relação de proteção, de cuidado.
Primeiramente, é para a nossa sobrevivência. Se nós protegemos o nosso território, consequentemente, há um benefício humanitário. As áreas protegidas estão fazendo enfrentamento, de fato, às mudanças climáticas.
Qual a importância do financiamento climático para os povos indígenas em sua gestão dos territórios e para a proteção dos biomas brasileiros?
Há várias iniciativas sobre financiamento em andamento. Em Glasgow, na COP26, foi anunciado o compromisso de US$ 1,7 bi para financiamento climático para os povos indígenas. Infelizmente, esse financiamento não chegou.
Mas, mesmo assim, nós continuamos fazendo o que nós sempre fizemos, que é a proteção dos nossos territórios. O financiamento é para impulsionar o trabalho que já fazemos de forma natural, porque é para a nossa sobrevivência.
Então, o "pledge" [promessa] anunciado em Glasgow refletiu o ponto positivo, um anúncio, o olhar dos financiadores para aqueles que fazem enfrentamento às mudanças climáticas: os povos indígenas e as comunidades tradicionais.
Agora, nós chegamos a um ponto mais crítico do que era a COP26 em termos climáticos. É necessário criar ações e medidas mais eficazes e potencializar as ações daqueles que comprovadamente já fazem isso de forma muito eficaz. A resposta somos nós.
Os povos indígenas pedem que suas vozes sejam atendidas, com poder de decisão. A ONU deveria mudar o formato da conferência do clima?
Nós acreditamos que a COP não tem dado certo, em termos de as metas não serem cumpridas, porque os negociadores são pessoas técnicas, que não têm vivência no território e não conseguem visualizar o impacto das mudanças climáticas na prática.
Eles olham os impactos por satélite, por livros, por bibliografias, fazem leituras. Os povos indígenas observam os rios serem modificados, o período de chuvas é outro. As queimadas que estão acontecendo mudam os fluxos das águas e os espaços que estão contaminados. Experiências que nenhum negociador que senta nas negociações, naquele espaço técnico e político, tem.
Então, trazer os povos indígenas e outros segmentos para as negociações é [necessário] para eles conseguirem visualizar, na prática, a experiência que nós temos. É preciso colocar as pessoas certas, quem passa por esse processo, de mudanças climáticas na prática, para as negociações e as metas climáticas que estão sendo construídas, pois somos nós que pagamos a conta da crise climática.
O governo federal autorizou a pesquisa de petróleo na margem equatorial, no Amapá. Como o movimento indígena vê essa medida vinda do mesmo governo que preside a COP30?
O Brasil vive um contexto muito contraditório. Nós entendemos que tem uma relação muito forte com a atuação do Congresso Nacional, mas também tem a decisão política do presidente Lula, do Executivo. Então, ao mesmo tempo que ele faz um discurso de liderança global pelo clima, tem uma articulação para exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
É uma contradição. E nós temos dito isso em todos os espaços. O governo não pode ser um líder global pelo ambiente autorizando a mineração e a exploração de petróleo na amazônia. Então, a gente entende que o discurso é uma coisa e na prática é outra.
Como seria uma transição energética justa para os povos indígenas?
A transição energética, para ser justa, tem que ter a participação popular. Hoje, quem faz essa discussão da transição energética são as grandes corporações. Inclusive, quem diz que lidera é a Petrobras no Brasil. Uma contradição.
Transição energética tem que dar às pessoas acesso a essa energia. Nós vimos várias comunidades que não têm sequer acesso à energia serem impactadas com grandes empreendimentos.
Discutir transição energética é acabar com a exploração de energia fóssil primeiramente. E pensar em alternativas de energia limpa que gerem menor impacto para a população, e que ela tenha acesso a essas políticas.
Na COP30, assim como em outras COPs, há uma presença grande de empresas com histórico de impacto a povos indígenas. Como avalia essa situação?
Infelizmente é uma realidade. A indústria petroleira teve uma presença muito forte nas três últimas COPs, que foram em países [Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão] que dependem do petróleo e fazem um grande lobby das empresas que geram impactos da emissão de gás carbônico e contribuem com o aquecimento global.
A indústria petroleira tem sido a maior delegação das COPs. Se fosse um país, seria a maior delegação. Entendemos que a conferência é um espaço democrático, com pontos favoráveis e contra, mas não pode ter uma disparidade de participação.
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/11/mundo-precisa-compreender-o-que-acontece-na-amazonia-diz-lideranca-indigena-sobre-a-cop30.shtml
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