De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
COP30: restauração do Cerrado anunciada pelo BTG Pactual inclui 130 mil hectares de eucalipto
13/11/2025
Autor: Por Bruno Stankevicius Bassi
Fonte: De Olho nos Ruralistas - https://deolhonosruralistas.com.br
Responsável pelo desmatamento de 1,2 mil hectares, por meio da controlada BRPec, banco de André Esteves assinou parcerias com bigtechs para restauração com espécies exóticas, como eucalipto e pinus; ecologistas alertam para riscos ao solo e bacias hidrográficas
O lobby corporativo possui várias facetas. Em eventos como a COP30, ele pode tomar a forma de patrocínios oficiais, organização de eventos paralelos ou alianças com entes públicos e organismos de cooperação internacional. No caso do BTG Pactual, o maior banco de investimentos da América Latina, a estratégia de ação climática acompanha o estilo de seu fundador André Esteves: muita articulação nos bastidores e grandes anúncios para o mercado.
A empresa compõe um dos estudos de caso do relatório "A COP dos Lobbies", produzido pelo De Olho nos Ruralistas em parceria com a Fase - Solidariedade e Educação. O estudo mapeia a influência crescente de grandes corporações brasileiras e de multinacionais nas negociações e nos espaços de deliberação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Belém.
A lista de empresas analisadas inclui as mineradoras Vale e Hydro, o frigorífico MBRF (Marfrig e BRF), a sucroalcooleira Cosan, a gigante do papel e celulose Suzano e os bancos Itaú e BTG Pactual.
A estratégia do banco de André Esteves para a COP30 começou ainda em 2024, com a assinatura de acordos de remoção de carbono com a Microsoft e a Meta. Funciona assim: para cumprir com os compromissos internacionais de zerar as emissões líquidas de gás carbônico (net zero), as bigtechs precisam "compensar" quaisquer valores excedentes que tenham gerado - ou que venham a gerar - em suas operações. E é aí que entra o BTG, por meio de sua divisão de gestão florestal, a Timberland Investment Group (TIG).
O banco oferece a opção de compra de créditos em áreas que ainda serão reflorestadas - geralmente em zonas degradadas pela atividade agropecuária. O que importa, nesse modelo, é que a empresa que comercializa os créditos tenha a posse das terras. E o BTG tem: desde 2022, o banco adquiriu, por meio da subsidiária TIG, 46 mil hectares no Mato Grosso do Sul, em região de Cerrado.
A Meta, de Mark Zuckerberg, adquiriu junto ao BTG 1,3 milhão de créditos de remoção de carbono, com opção para um adicional de 2,6 milhões de créditos até 2038. A Microsoft, por sua vez, efetuou a maior transação do gênero jamais registrada: contratou 8 milhões de créditos até 2043. Em termos territoriais, o BTG tem a obrigação de restaurar e proteger cerca de 260 mil hectares de Cerrado, em áreas de pastagens degradadas.
Mas há um pulo do gato: o anúncio da negociação com a gigante da tecnologia fundada por Bill Gates diz que apenas 135 mil hectares precisam ser recuperados com espécies nativas. O restante pode receber monoculturas de pinus ou eucalipto, desde que seja em terras desmatadas e degradadas. Ou seja, metade desse estoque de carbono pode ser convertido para uso comercial.
PESQUISADORES ALERTAM PARA RISCOS DA RESTAURAÇÃO COM EUCALIPTO
Os contratos do BTG são supervisionados pela ONG estadunidense Conservação Internacional (CI). Um artigo publicado no site da iniciativa de restauração Nova Mata, cita um depoimento do conselheiro de impacto da CI, Will Turner, que justifica o uso de espécies exóticas no Cerrado por seu potencial de ajudar o crescimento de espécies nativas.
"É fácil fazer um julgamento rápido sobre o plantio de espécies exóticas em qualquer lugar fora de sua área de distribuição, como o eucalipto da Austrália", afirma Turner. "Mas não é por meio de um julgamento precipitado que resolveremos as mudanças climáticas e salvaremos a biodiversidade. Precisamos testar o que realmente funciona. Esse é um compromisso muito sério para melhorar a maneira como gerenciamos a natureza em propriedades privadas".
O uso de eucalipto e pinus para restauração florestal tem se proliferado no Brasil, especialmente a partir da regulamentação do mercado de créditos de carbono. A justificativa é que essas espécies crescem mais rápido que a vegetação nativa, fornecendo sombra e nutrientes para que as plantas nativas vençam a barreira da braquiária, capim africano que se popularizou na pecuária.
Ecologistas especializados em Cerrado contrariam essa visão. A pesquisadora Giselda Durigan, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta, em entrevista para o MIT Technology Review, sobre os riscos do uso de árvores exóticas no bioma, cujo solo não suporta um volume tão grande de biomassa. O risco hídrico também é uma preocupação, devido ao alto consumo de água dessas espécies - em particular, do eucalipto - ameaçando as bacias hidrográficas da região.
"Eles estão usando o discurso do carbono como mais um argumento para dizer que os negócios estão ótimos", disse Durigan. "Eles estão felizes em ser vistos como os mocinhos".
Independente das críticas, o BTG continua anunciando parcerias de restauração com base em espécies exóticas. Em 6 de novembro, às vésperas da COP30, o banco anunciou um projeto com o grupo sueco Ikea para restaurar 4 mil hectares de pastagens degradadas de Mata Atlântica através do manejo de pinus. Meses antes, em maio, o BTG assinou uma parceria com a Apple para implementar projetos de restauração com eucalipto no Cerrado.
BANCO FOCA EM PARCERIA COM BIGTECHS E "COP DOS INVESTIMENTOS"
Em agosto de 2025, a três meses do início da COP30, o BTG Pactual anunciou uma parceria com a Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês), braço de investimentos do Banco Mundial, para a alocação de US$ 1 bilhão em investimentos conjuntos e de terceiros para impulsionar iniciativas de sustentabilidade e desenvolvimento no Brasil e América Latina, até 2028.
Em setembro, mais um anúncio. A Coalizão Financeira para Restauração e Bioeconomia do Brasil (BRB Finance Coalition), fundada um ano antes pelo BTG e outras 11 empresas e organizações do terceiro setor - incluindo a própria Conservação Internacional -, declararam ter garantido US$ 4,5 bilhões para projetos de restauração florestal e bioeconomia. O valor representa 45% da meta de US$ 10 bilhões estabelecida até 2030.
Segundo o site da coalizão, seus membros possuem, juntos, 3,65 milhões de hectares de áreas restauradas ou em processo de restauração - uma área superior ao território da Bélgica. Além do BTG, fazem parte da iniciativa a Suzano, o Fundo Vale, o Instituto Itaúsa e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebeds).
O banco de André Esteves é patrocinador da World Climate Summit, um evento paralelo às conferências da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, em inglês). Iniciado em 2010, durante a COP16, na Cidade do México, o encontro ficou conhecido como "COP dos Investimentos". No Brasil, ele será organizado pela World Climate Foundation em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICs) - que, por sua vez, atua junto ao BTG no BRB Finance Coalition.
A principal porta-voz do BTG para o evento climático tem sido a sócia-diretora Mariana Oiticica, responsável pela área de ESG e Investimentos de Impacto do banco. Foi ela quem representou Esteves na conferência global pré-COP, nos dias 7 e 8 de novembro, no Rio de Janeiro.
SUBSIDIÁRIA DESMATOU 1,2 MIL HECTARES DE MATA ATLÂNTICA
Do outro lado dos mecanismos de finanças verdes e créditos de carbono, o BTG Pactual possui uma atuação muito menos conhecida. O banco de André Esteves é dono de pelo menos uma dezena de empresas agropecuárias. Parte delas, no entanto, está registrada não em nome do BTG, mas de membros do conselho e executivos sênior da empresa.
É o caso da BRPec Agropecuária Ltda, que tem como sócios Antonio Carlos Canto Porto Filho, vice-presidente sênior do BTG; Fernanda Stallone Palmeiro, secretária executiva; Luciane Ribeiro Monteiro, head de parcerias; Gustavo dos Santos Vaz, conselheiro da PPLA Participations, veículo de investimentos internacionais do grupo; e Cleber Gonçalves e Silva, o único com dedicação exclusiva como gerente de contabilidade da própria BRPec.
Em 2020, o De Olho nos Ruralistas mostrou que a agropecuária ligada a André Esteves foi autuada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em R$ 54,5 milhões por "destruir 9.909,07 hectares de fragmentos de vegetação nativa do bioma Mata Atlântica, considerada objeto de especial preservação, sem licença da autoridade ambiental competente". A infração foi apurada em 5 de dezembro de 2018, na Fazenda Cristo Redentor, localizada entre os municípios de Miranda e Corumbá (MS). Apesar da categorização como Mata Atlântica, a área autuada é tão grande que engloba zonas de transição com o Pantanal. O Ibama emitiu ainda uma segunda multa, no valor de R$ 3,5 milhões, pela supressão de outros 500,16 hectares de vegetação nativa. Trata-se da maior infração por desmatamento registrada naquele ano e uma dos maiores já lavradas pelo Ibama.
Logo na sequência, o Ministério Público do Mato Grosso do Sul (MPMS) instaurou um inquérito civil contra a BRPec para apurar as informações. Um novo laudo foi emitido pelo Núcleo de Geotecnologias do MPMS, constatando que o desmatamento ilegal se restringiu a uma área de 1.151,28 hectares. As multas aplicadas pelo Ibama foram canceladas e a empresa assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), onde se comprometia a reflorestar a vegetação de Mata Atlântica que havia sido destruída e a pagar de uma indenização de R$ 100 mil - menos de 0,2% do valor inicialmente lavrado pelo Ibama. O procedimento foi arquivado após o cumprimento do acordo, em 30 de setembro de 2021.
Apesar de enorme, a área suprimida pela BRPec corresponde a uma pequena fração da propriedade: ao todo, a Fazenda Cristo Redentor possui 132.660,89 hectares. Um verdadeiro latifúndio: cinco vezes maior que a área urbana da capital Campo Grande e quase do tamanho de São Paulo, o maior município da América Latina. O imóvel chegou às mãos da BTG em 2012, comprada do pecuarista José Carlos Bumlai como forma de abater suas dívidas com o banco. Um ano e meio depois, a empresa repassou a Cristo Redentor para a BRPec.
Bumlai e Esteves foram presos em 2015, durante as investigações da Operação Lava Jato, com apenas algumas horas de diferença entre um e outro. Bumlai ficou conhecido nacionalmente durante o governo Lula, em razão de suspeitas de que teria sido favorecido economicamente por ser próximo do presidente. O pecuarista acumula R$ 1,7 milhão em multas por destruição da flora em Corumbá, além de ter protagonizado um conflito contra os Guarani Kaiowá do Tekohá Apyka'i, em Dourados (MS). Bumlai foi condenado em primeira instância, pelo então juiz federal Sérgio Moro, a 9 anos e 10 meses de prisão, acusado de intermediar vantagens indevidas do Grupo Schahin em negociações com a Petrobras.
O banqueiro André Esteves foi investigado com base nas delações do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, por supostos atos de corrupção envolvendo a Petrobras. Em um dos casos, o Ministério Público Federal resolveu não denunciá-lo por falta de provas. Em outro, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou os mandados de busca e apreensão contra ele por considerá-los constrangimento ilegal. Os processos da Lava Jato contra os dois empresários foram anulados em 2021.
BANCO DE ANDRÉ ESTEVES MANTÉM CONTRATOS COM AGROGOLPISTAS
Além da BRPec, a BTG é dona de outra empresa agropecuária: a trader de grãos Engelhart CTP Brasil, conhecida como BTG Pactual Commodities, com sede em Londres. De Olho nos Ruralistas revelou, em junho de 2025, que a comercializadora possui contratos de compra de soja- a vencer em 2034 - com dez fazendeiros implicados nas investigações sobre os atos antidemocráticos realizados pela extrema direita entre outubro de 2022 e o fatídico 8 de janeiro de 2023, quando milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro saquearam a Praça dos Três Poderes, em Brasília, tentando provocar um golpe de Estado pelas Forças Armadas.
A informação consta em um documento do próprio BTG que, em 2024, emitiu R$ 8,5 bilhões em Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) junto a fornecedores. Um dos fornecedores é Argino Bedin, chamado de "pai da soja" em Sorriso (MT) e um dos personagens centrais do dossiê "Agrogolpistas", que mapeou 142 empresários do agronegócio que atuaram no suporte logístico ou financeiro a atos golpistas. Segundo um relatório da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), membros da família Bedin eram proprietários de quinze caminhões fichados no Quartel-General do Exército em Brasília - de onde saiu a passeata que culminou no quebra-quebra de 8 de janeiro.
A relação do BTG com o agronegócio também se dá por meio de investimentos diretos. Com um valor de mercado estimado em R$ 181,7 bilhões, é o maior banco de investimentos da América Latina e a segunda maior instituição financeira do Brasil, atrás apenas do Itaú.
Em 2021, o banco de Esteves e a XP Investimentos se juntaram para estruturar a venda de R$ 670 milhões em ações da BrasilAgro. O que não fosse comprado por terceiros, seria absorvido pelas duas instituições como participação societária. Maior imobiliária agrícola do país, a BrasilAgro atua na aquisição, exploração e comercialização de propriedades rurais, com 273,5 mil hectares em fazendas próprias no Brasil - em seis estados do Cerrado -, além de Bolívia e Paraguai. A empresa é frequentemente associada a casos de desmatamento no Matopiba, uma região de fronteira agrícola que atravessa partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
No mesmo ano, uma investigação da Agência Pública mostrou, a partir de documentos oficiais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que a BrasilAgro agia como intermediária de investidores argentinos e estadunidenses para driblar, de forma ilegal, as restrições à compra de terras por estrangeiros. O BTG Pactual não respondeu à reportagem.
https://deolhonosruralistas.com.br/2025/11/13/cop30-btgpactual/
O lobby corporativo possui várias facetas. Em eventos como a COP30, ele pode tomar a forma de patrocínios oficiais, organização de eventos paralelos ou alianças com entes públicos e organismos de cooperação internacional. No caso do BTG Pactual, o maior banco de investimentos da América Latina, a estratégia de ação climática acompanha o estilo de seu fundador André Esteves: muita articulação nos bastidores e grandes anúncios para o mercado.
A empresa compõe um dos estudos de caso do relatório "A COP dos Lobbies", produzido pelo De Olho nos Ruralistas em parceria com a Fase - Solidariedade e Educação. O estudo mapeia a influência crescente de grandes corporações brasileiras e de multinacionais nas negociações e nos espaços de deliberação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Belém.
A lista de empresas analisadas inclui as mineradoras Vale e Hydro, o frigorífico MBRF (Marfrig e BRF), a sucroalcooleira Cosan, a gigante do papel e celulose Suzano e os bancos Itaú e BTG Pactual.
A estratégia do banco de André Esteves para a COP30 começou ainda em 2024, com a assinatura de acordos de remoção de carbono com a Microsoft e a Meta. Funciona assim: para cumprir com os compromissos internacionais de zerar as emissões líquidas de gás carbônico (net zero), as bigtechs precisam "compensar" quaisquer valores excedentes que tenham gerado - ou que venham a gerar - em suas operações. E é aí que entra o BTG, por meio de sua divisão de gestão florestal, a Timberland Investment Group (TIG).
O banco oferece a opção de compra de créditos em áreas que ainda serão reflorestadas - geralmente em zonas degradadas pela atividade agropecuária. O que importa, nesse modelo, é que a empresa que comercializa os créditos tenha a posse das terras. E o BTG tem: desde 2022, o banco adquiriu, por meio da subsidiária TIG, 46 mil hectares no Mato Grosso do Sul, em região de Cerrado.
A Meta, de Mark Zuckerberg, adquiriu junto ao BTG 1,3 milhão de créditos de remoção de carbono, com opção para um adicional de 2,6 milhões de créditos até 2038. A Microsoft, por sua vez, efetuou a maior transação do gênero jamais registrada: contratou 8 milhões de créditos até 2043. Em termos territoriais, o BTG tem a obrigação de restaurar e proteger cerca de 260 mil hectares de Cerrado, em áreas de pastagens degradadas.
Mas há um pulo do gato: o anúncio da negociação com a gigante da tecnologia fundada por Bill Gates diz que apenas 135 mil hectares precisam ser recuperados com espécies nativas. O restante pode receber monoculturas de pinus ou eucalipto, desde que seja em terras desmatadas e degradadas. Ou seja, metade desse estoque de carbono pode ser convertido para uso comercial.
PESQUISADORES ALERTAM PARA RISCOS DA RESTAURAÇÃO COM EUCALIPTO
Os contratos do BTG são supervisionados pela ONG estadunidense Conservação Internacional (CI). Um artigo publicado no site da iniciativa de restauração Nova Mata, cita um depoimento do conselheiro de impacto da CI, Will Turner, que justifica o uso de espécies exóticas no Cerrado por seu potencial de ajudar o crescimento de espécies nativas.
"É fácil fazer um julgamento rápido sobre o plantio de espécies exóticas em qualquer lugar fora de sua área de distribuição, como o eucalipto da Austrália", afirma Turner. "Mas não é por meio de um julgamento precipitado que resolveremos as mudanças climáticas e salvaremos a biodiversidade. Precisamos testar o que realmente funciona. Esse é um compromisso muito sério para melhorar a maneira como gerenciamos a natureza em propriedades privadas".
O uso de eucalipto e pinus para restauração florestal tem se proliferado no Brasil, especialmente a partir da regulamentação do mercado de créditos de carbono. A justificativa é que essas espécies crescem mais rápido que a vegetação nativa, fornecendo sombra e nutrientes para que as plantas nativas vençam a barreira da braquiária, capim africano que se popularizou na pecuária.
Ecologistas especializados em Cerrado contrariam essa visão. A pesquisadora Giselda Durigan, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta, em entrevista para o MIT Technology Review, sobre os riscos do uso de árvores exóticas no bioma, cujo solo não suporta um volume tão grande de biomassa. O risco hídrico também é uma preocupação, devido ao alto consumo de água dessas espécies - em particular, do eucalipto - ameaçando as bacias hidrográficas da região.
"Eles estão usando o discurso do carbono como mais um argumento para dizer que os negócios estão ótimos", disse Durigan. "Eles estão felizes em ser vistos como os mocinhos".
Independente das críticas, o BTG continua anunciando parcerias de restauração com base em espécies exóticas. Em 6 de novembro, às vésperas da COP30, o banco anunciou um projeto com o grupo sueco Ikea para restaurar 4 mil hectares de pastagens degradadas de Mata Atlântica através do manejo de pinus. Meses antes, em maio, o BTG assinou uma parceria com a Apple para implementar projetos de restauração com eucalipto no Cerrado.
BANCO FOCA EM PARCERIA COM BIGTECHS E "COP DOS INVESTIMENTOS"
Em agosto de 2025, a três meses do início da COP30, o BTG Pactual anunciou uma parceria com a Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês), braço de investimentos do Banco Mundial, para a alocação de US$ 1 bilhão em investimentos conjuntos e de terceiros para impulsionar iniciativas de sustentabilidade e desenvolvimento no Brasil e América Latina, até 2028.
Em setembro, mais um anúncio. A Coalizão Financeira para Restauração e Bioeconomia do Brasil (BRB Finance Coalition), fundada um ano antes pelo BTG e outras 11 empresas e organizações do terceiro setor - incluindo a própria Conservação Internacional -, declararam ter garantido US$ 4,5 bilhões para projetos de restauração florestal e bioeconomia. O valor representa 45% da meta de US$ 10 bilhões estabelecida até 2030.
Segundo o site da coalizão, seus membros possuem, juntos, 3,65 milhões de hectares de áreas restauradas ou em processo de restauração - uma área superior ao território da Bélgica. Além do BTG, fazem parte da iniciativa a Suzano, o Fundo Vale, o Instituto Itaúsa e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebeds).
O banco de André Esteves é patrocinador da World Climate Summit, um evento paralelo às conferências da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, em inglês). Iniciado em 2010, durante a COP16, na Cidade do México, o encontro ficou conhecido como "COP dos Investimentos". No Brasil, ele será organizado pela World Climate Foundation em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICs) - que, por sua vez, atua junto ao BTG no BRB Finance Coalition.
A principal porta-voz do BTG para o evento climático tem sido a sócia-diretora Mariana Oiticica, responsável pela área de ESG e Investimentos de Impacto do banco. Foi ela quem representou Esteves na conferência global pré-COP, nos dias 7 e 8 de novembro, no Rio de Janeiro.
SUBSIDIÁRIA DESMATOU 1,2 MIL HECTARES DE MATA ATLÂNTICA
Do outro lado dos mecanismos de finanças verdes e créditos de carbono, o BTG Pactual possui uma atuação muito menos conhecida. O banco de André Esteves é dono de pelo menos uma dezena de empresas agropecuárias. Parte delas, no entanto, está registrada não em nome do BTG, mas de membros do conselho e executivos sênior da empresa.
É o caso da BRPec Agropecuária Ltda, que tem como sócios Antonio Carlos Canto Porto Filho, vice-presidente sênior do BTG; Fernanda Stallone Palmeiro, secretária executiva; Luciane Ribeiro Monteiro, head de parcerias; Gustavo dos Santos Vaz, conselheiro da PPLA Participations, veículo de investimentos internacionais do grupo; e Cleber Gonçalves e Silva, o único com dedicação exclusiva como gerente de contabilidade da própria BRPec.
Em 2020, o De Olho nos Ruralistas mostrou que a agropecuária ligada a André Esteves foi autuada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em R$ 54,5 milhões por "destruir 9.909,07 hectares de fragmentos de vegetação nativa do bioma Mata Atlântica, considerada objeto de especial preservação, sem licença da autoridade ambiental competente". A infração foi apurada em 5 de dezembro de 2018, na Fazenda Cristo Redentor, localizada entre os municípios de Miranda e Corumbá (MS). Apesar da categorização como Mata Atlântica, a área autuada é tão grande que engloba zonas de transição com o Pantanal. O Ibama emitiu ainda uma segunda multa, no valor de R$ 3,5 milhões, pela supressão de outros 500,16 hectares de vegetação nativa. Trata-se da maior infração por desmatamento registrada naquele ano e uma dos maiores já lavradas pelo Ibama.
Logo na sequência, o Ministério Público do Mato Grosso do Sul (MPMS) instaurou um inquérito civil contra a BRPec para apurar as informações. Um novo laudo foi emitido pelo Núcleo de Geotecnologias do MPMS, constatando que o desmatamento ilegal se restringiu a uma área de 1.151,28 hectares. As multas aplicadas pelo Ibama foram canceladas e a empresa assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), onde se comprometia a reflorestar a vegetação de Mata Atlântica que havia sido destruída e a pagar de uma indenização de R$ 100 mil - menos de 0,2% do valor inicialmente lavrado pelo Ibama. O procedimento foi arquivado após o cumprimento do acordo, em 30 de setembro de 2021.
Apesar de enorme, a área suprimida pela BRPec corresponde a uma pequena fração da propriedade: ao todo, a Fazenda Cristo Redentor possui 132.660,89 hectares. Um verdadeiro latifúndio: cinco vezes maior que a área urbana da capital Campo Grande e quase do tamanho de São Paulo, o maior município da América Latina. O imóvel chegou às mãos da BTG em 2012, comprada do pecuarista José Carlos Bumlai como forma de abater suas dívidas com o banco. Um ano e meio depois, a empresa repassou a Cristo Redentor para a BRPec.
Bumlai e Esteves foram presos em 2015, durante as investigações da Operação Lava Jato, com apenas algumas horas de diferença entre um e outro. Bumlai ficou conhecido nacionalmente durante o governo Lula, em razão de suspeitas de que teria sido favorecido economicamente por ser próximo do presidente. O pecuarista acumula R$ 1,7 milhão em multas por destruição da flora em Corumbá, além de ter protagonizado um conflito contra os Guarani Kaiowá do Tekohá Apyka'i, em Dourados (MS). Bumlai foi condenado em primeira instância, pelo então juiz federal Sérgio Moro, a 9 anos e 10 meses de prisão, acusado de intermediar vantagens indevidas do Grupo Schahin em negociações com a Petrobras.
O banqueiro André Esteves foi investigado com base nas delações do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, por supostos atos de corrupção envolvendo a Petrobras. Em um dos casos, o Ministério Público Federal resolveu não denunciá-lo por falta de provas. Em outro, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou os mandados de busca e apreensão contra ele por considerá-los constrangimento ilegal. Os processos da Lava Jato contra os dois empresários foram anulados em 2021.
BANCO DE ANDRÉ ESTEVES MANTÉM CONTRATOS COM AGROGOLPISTAS
Além da BRPec, a BTG é dona de outra empresa agropecuária: a trader de grãos Engelhart CTP Brasil, conhecida como BTG Pactual Commodities, com sede em Londres. De Olho nos Ruralistas revelou, em junho de 2025, que a comercializadora possui contratos de compra de soja- a vencer em 2034 - com dez fazendeiros implicados nas investigações sobre os atos antidemocráticos realizados pela extrema direita entre outubro de 2022 e o fatídico 8 de janeiro de 2023, quando milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro saquearam a Praça dos Três Poderes, em Brasília, tentando provocar um golpe de Estado pelas Forças Armadas.
A informação consta em um documento do próprio BTG que, em 2024, emitiu R$ 8,5 bilhões em Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) junto a fornecedores. Um dos fornecedores é Argino Bedin, chamado de "pai da soja" em Sorriso (MT) e um dos personagens centrais do dossiê "Agrogolpistas", que mapeou 142 empresários do agronegócio que atuaram no suporte logístico ou financeiro a atos golpistas. Segundo um relatório da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), membros da família Bedin eram proprietários de quinze caminhões fichados no Quartel-General do Exército em Brasília - de onde saiu a passeata que culminou no quebra-quebra de 8 de janeiro.
A relação do BTG com o agronegócio também se dá por meio de investimentos diretos. Com um valor de mercado estimado em R$ 181,7 bilhões, é o maior banco de investimentos da América Latina e a segunda maior instituição financeira do Brasil, atrás apenas do Itaú.
Em 2021, o banco de Esteves e a XP Investimentos se juntaram para estruturar a venda de R$ 670 milhões em ações da BrasilAgro. O que não fosse comprado por terceiros, seria absorvido pelas duas instituições como participação societária. Maior imobiliária agrícola do país, a BrasilAgro atua na aquisição, exploração e comercialização de propriedades rurais, com 273,5 mil hectares em fazendas próprias no Brasil - em seis estados do Cerrado -, além de Bolívia e Paraguai. A empresa é frequentemente associada a casos de desmatamento no Matopiba, uma região de fronteira agrícola que atravessa partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
No mesmo ano, uma investigação da Agência Pública mostrou, a partir de documentos oficiais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que a BrasilAgro agia como intermediária de investidores argentinos e estadunidenses para driblar, de forma ilegal, as restrições à compra de terras por estrangeiros. O BTG Pactual não respondeu à reportagem.
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