De Povos Indígenas no Brasil
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COP30: presidente do Cimi critica priorização do lucro sobre a proteção do planeta
14/11/2025
Fonte: CIMI - https://cimi.org.br
Crítica de Dom Leonardo Steiner converge com o ato Munduruku na COP30 contra obras e decretos federais, expondo o abismo entre o discurso climático e a devastação em curso
Durante o Simpósio Internacional - Igreja Católica na COP30, o arcebispo de Manaus e presidente do Cimi, cardeal Leonardo Steiner, fez uma crítica ao espaço global de negociações climáticas. Segundo ele, mesmo na COP - onde se deveria reafirmar o compromisso com a justiça climática - o horizonte que prevalece nas decisões internacionais não é o meio ambiente, mas a lógica do lucro, responsável pela devastação da casa comum e pela violação dos direitos dos povos indígenas.
Steiner alertou que essa mentalidade "calculante", que transforma árvores, rios, territórios e vidas em valor de mercado, sustenta as pressões que avançam sobre a Amazônia, sobre terras indígenas e sobre os biomas brasileiros. Uma racionalidade que não considera a vida dos povos isolados, que não protege aldeias, que não reconhece a centralidade dos povos originários na conservação da floresta - interessa apenas a exploração.
"Transforma árvores, rios, territórios e vidas em valor de mercado, sustenta as pressões que avançam sobre a Amazônia, sobre terras indígenas e sobre os biomas brasileiros"
Ao aprofundar o tema "Caminhos da Ecologia Integral para a Conversão Ecológica", o cardeal mostrou que a Igreja, há décadas, vem anunciando esse risco. Na ocasião, ele recuperou algumas Campanhas da Fraternidade que anteciparam debates hoje urgentes, citando exatamente como cada uma abordou aspectos ambientais e sociais.
Ao recordar esse percurso, Steiner evidencia que a crise atual não é fruto de desconhecimento, mas de escolhas políticas e econômicas que ignoram a vida e aceleram o colapso climático. A conversão ecológica - insistiu ele - só será possível se rompemos com o modelo que sacrifica povos, territórios e o equilíbrio climático em nome do mercado.
Para o cardeal, uma COP realizada na Amazônia deveria ouvir, acima de tudo, os povos indígenas, maiores guardiões e também maiores afetados pela destruição. Sem justiça aos povos e sem proteção dos territórios, não há ecologia integral, destaca o cardeal.
"Steiner evidencia que a crise atual não é fruto de desconhecimento, mas de escolhas políticas e econômicas que ignoram a vida e aceleram o colapso climático"
"A COP do discurso"
A realidade no Brasil revela um cenário de violentos e contínuos ataques aos territórios e direitos dos povos indígenas - justamente os temas que deveriam orientar qualquer debate climático sério. Hoje, a maior parte das terras indígenas permanece sem demarcação concluída; regiões inteiras seguem tomadas por garimpo, grilagem e exploração ilegal de madeira; comunidades continuam expostas à contaminação por mercúrio, à destruição de rios, à invasão de territórios e ao avanço sistemático de obras e projetos que não respeitam consulta prévia. Soma-se a isso um quadro terrível de desassistência diante do enfrentamento à devastação ambiental à qual estão submetidos.
Nos últimos anos, a violência contra lideranças indígenas aumentou de modo alarmante. Somente em 2024, de acordo com o relatório "Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil", publicado pelo Cimi, foram registrados 211 assassinatos de indígenas. A CNDH declarou por meio de recomendação oficial que há "estado de sistemática violação dos direitos humanos dos povos indígenas no Brasil", apontando omissão estatal, retrocessos no reconhecimento e proteção dos territórios indígenas e exigindo ação urgente.
"O espaço internacional se torna incapaz de responder ao que ocorre no chão da Amazônia"
É nesse contexto que Leonardo Steiner faz sua crítica: uma COP sediada na Amazônia não tem conseguido enfrentar essas questões porque continua reproduzindo um modelo de negociações distante dos povos que historicamente protegem a floresta. Sem escuta verdadeira, sem participação qualificada e sem políticas concretas - demarcações abruptamente paralisadas, licenciamento ambiental flexibilizado, exploração incessante - o espaço internacional se torna incapaz de responder ao que ocorre no chão da Amazônia - onde a devastação avança, os territórios seguem sob ataque, e os povos mais vulneráveis continuam carregando o peso das consequências da crise climática.
Na porta da COP
Na manhã desta sexta-feira (14), indígenas do povo Munduruku, articulados pelo Movimento Ipereg Ayu, protestaram em frente à entrada da Blue Zone da COP30, bloqueando parcialmente o fluxo e chamando a atenção para decisões do governo brasileiro que ameaçam diretamente seus territórios. O ato, marcado por cantos, faixas e exigência de diálogo, teve um objetivo claro: cobrar uma reunião urgente com o presidente Lula, para discutir os impactos dos grandes empreendimentos que avançam sobre o Tapajós.
A pressão feita pelos Munduruku na entrada da Blue Zone, durante a COP30, evidencia de forma direta o abismo entre o discurso climático oficial e a realidade vivida pelos povos que protegem a Amazônia.
"Presidente Lula, o senhor precisa ouvir o nosso povo antes de decidir sobre nosso futuro"
Em nota à imprensa, o movimento Ipereg Ayu afirma o foco da mobilização é o Decreto 12.600/2025, que instituiu o Plano Nacional de Hidrovias e incluiu o Tapajós, o Madeira e o Tocantins como eixos prioritários para navegação de cargas. "Para os Munduruku, o decreto "abre a porteira" para novas dragagens, derrocamento de pedrais sagrados e expansão acelerada de portos privados. Esse decreto ameaça exterminar nosso modo de vida, porque transforma o rio em estrada de soja. Presidente Lula, o senhor precisa ouvir o nosso povo antes de decidir sobre nosso futuro", afirma o documento.
A denúncia é concreta: ao priorizar a logística do agronegócio, o Estado reproduz o mesmo modelo denunciado pelo cardeal Leonardo Steiner - aquele que sacrifica territórios, biomas e vidas em nome do lucro.
Os Munduruku também protestam contra créditos de carbono e mecanismos de REDD+ jurisdicional, que vêm sendo discutidos na COP30 sem a participação adequada dos povos. Para as lideranças, tais projetos constituem uma nova forma de pressão sobre a Amazônia: entram empresas, consultorias e intermediários, mas não entram as soluções para o desmatamento, o garimpo, as hidrovias e as obras que seguem avançando dentro dos territórios. "Nossa floresta não está à venda", reafirmam.
"Não existe ecologia integral sem justiça aos povos e sem proteção efetiva dos territórios"
Os dados levantados pelo Inesc ajudam a dimensionar a gravidade do que está em jogo. O corredor Tapajós-Arco Norte é hoje um dos principais vetores da expansão do agronegócio: entre 2010 e 2022, 68% dos investimentos federais em infraestrutura na Amazônia foram destinados a corredores de exportação, impulsionando a construção de terminais, hidrovias e estradas. Só no Tapajós, a movimentação de cargas saltou de 4 mil toneladas em 2019 para 167 mil toneladas em 2022. Esse avanço já reduz pesca, contamina igarapés, impede circulação de ribeirinhos e afeta diretamente aldeias Munduruku ao longo do Tapajós e do Teles Pires.
A pauta do movimento inclui ainda o cancelamento definitivo da Ferrogrão (EF-170), que multiplicará por seis o volume de grãos no Tapajós e ampliará conflitos fundiários, portos privados, dragagens e contaminação por agrotóxicos. Somado à omissão estatal na demarcação das terras indígenas, o avanço desses projetos configura o cenário de violações que a CNDH já reconheceu como "sistemático" em nota recente - e que permanece invisível nas negociações oficiais da COP.
Assim como enfatizou Dom Leonardo Steiner, não existe ecologia integral sem justiça aos povos e sem proteção efetiva dos territórios. A denúncia dos Munduruku na porta da conferência apenas reafirma isso: enquanto o modelo econômico que destrói rios e florestas segue sendo financiado e legitimado, a COP se distancia das soluções reais e ignora aqueles que carregam, no corpo e no território, o impacto direto da crise climática.
"Só no Tapajós, a movimentação de cargas saltou de 4 mil toneladas em 2019 para 167 mil toneladas em 2022"
https://cimi.org.br/2025/11/cop30-presidente-cimi-cardeal-leonardo-steiner/
Durante o Simpósio Internacional - Igreja Católica na COP30, o arcebispo de Manaus e presidente do Cimi, cardeal Leonardo Steiner, fez uma crítica ao espaço global de negociações climáticas. Segundo ele, mesmo na COP - onde se deveria reafirmar o compromisso com a justiça climática - o horizonte que prevalece nas decisões internacionais não é o meio ambiente, mas a lógica do lucro, responsável pela devastação da casa comum e pela violação dos direitos dos povos indígenas.
Steiner alertou que essa mentalidade "calculante", que transforma árvores, rios, territórios e vidas em valor de mercado, sustenta as pressões que avançam sobre a Amazônia, sobre terras indígenas e sobre os biomas brasileiros. Uma racionalidade que não considera a vida dos povos isolados, que não protege aldeias, que não reconhece a centralidade dos povos originários na conservação da floresta - interessa apenas a exploração.
"Transforma árvores, rios, territórios e vidas em valor de mercado, sustenta as pressões que avançam sobre a Amazônia, sobre terras indígenas e sobre os biomas brasileiros"
Ao aprofundar o tema "Caminhos da Ecologia Integral para a Conversão Ecológica", o cardeal mostrou que a Igreja, há décadas, vem anunciando esse risco. Na ocasião, ele recuperou algumas Campanhas da Fraternidade que anteciparam debates hoje urgentes, citando exatamente como cada uma abordou aspectos ambientais e sociais.
Ao recordar esse percurso, Steiner evidencia que a crise atual não é fruto de desconhecimento, mas de escolhas políticas e econômicas que ignoram a vida e aceleram o colapso climático. A conversão ecológica - insistiu ele - só será possível se rompemos com o modelo que sacrifica povos, territórios e o equilíbrio climático em nome do mercado.
Para o cardeal, uma COP realizada na Amazônia deveria ouvir, acima de tudo, os povos indígenas, maiores guardiões e também maiores afetados pela destruição. Sem justiça aos povos e sem proteção dos territórios, não há ecologia integral, destaca o cardeal.
"Steiner evidencia que a crise atual não é fruto de desconhecimento, mas de escolhas políticas e econômicas que ignoram a vida e aceleram o colapso climático"
"A COP do discurso"
A realidade no Brasil revela um cenário de violentos e contínuos ataques aos territórios e direitos dos povos indígenas - justamente os temas que deveriam orientar qualquer debate climático sério. Hoje, a maior parte das terras indígenas permanece sem demarcação concluída; regiões inteiras seguem tomadas por garimpo, grilagem e exploração ilegal de madeira; comunidades continuam expostas à contaminação por mercúrio, à destruição de rios, à invasão de territórios e ao avanço sistemático de obras e projetos que não respeitam consulta prévia. Soma-se a isso um quadro terrível de desassistência diante do enfrentamento à devastação ambiental à qual estão submetidos.
Nos últimos anos, a violência contra lideranças indígenas aumentou de modo alarmante. Somente em 2024, de acordo com o relatório "Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil", publicado pelo Cimi, foram registrados 211 assassinatos de indígenas. A CNDH declarou por meio de recomendação oficial que há "estado de sistemática violação dos direitos humanos dos povos indígenas no Brasil", apontando omissão estatal, retrocessos no reconhecimento e proteção dos territórios indígenas e exigindo ação urgente.
"O espaço internacional se torna incapaz de responder ao que ocorre no chão da Amazônia"
É nesse contexto que Leonardo Steiner faz sua crítica: uma COP sediada na Amazônia não tem conseguido enfrentar essas questões porque continua reproduzindo um modelo de negociações distante dos povos que historicamente protegem a floresta. Sem escuta verdadeira, sem participação qualificada e sem políticas concretas - demarcações abruptamente paralisadas, licenciamento ambiental flexibilizado, exploração incessante - o espaço internacional se torna incapaz de responder ao que ocorre no chão da Amazônia - onde a devastação avança, os territórios seguem sob ataque, e os povos mais vulneráveis continuam carregando o peso das consequências da crise climática.
Na porta da COP
Na manhã desta sexta-feira (14), indígenas do povo Munduruku, articulados pelo Movimento Ipereg Ayu, protestaram em frente à entrada da Blue Zone da COP30, bloqueando parcialmente o fluxo e chamando a atenção para decisões do governo brasileiro que ameaçam diretamente seus territórios. O ato, marcado por cantos, faixas e exigência de diálogo, teve um objetivo claro: cobrar uma reunião urgente com o presidente Lula, para discutir os impactos dos grandes empreendimentos que avançam sobre o Tapajós.
A pressão feita pelos Munduruku na entrada da Blue Zone, durante a COP30, evidencia de forma direta o abismo entre o discurso climático oficial e a realidade vivida pelos povos que protegem a Amazônia.
"Presidente Lula, o senhor precisa ouvir o nosso povo antes de decidir sobre nosso futuro"
Em nota à imprensa, o movimento Ipereg Ayu afirma o foco da mobilização é o Decreto 12.600/2025, que instituiu o Plano Nacional de Hidrovias e incluiu o Tapajós, o Madeira e o Tocantins como eixos prioritários para navegação de cargas. "Para os Munduruku, o decreto "abre a porteira" para novas dragagens, derrocamento de pedrais sagrados e expansão acelerada de portos privados. Esse decreto ameaça exterminar nosso modo de vida, porque transforma o rio em estrada de soja. Presidente Lula, o senhor precisa ouvir o nosso povo antes de decidir sobre nosso futuro", afirma o documento.
A denúncia é concreta: ao priorizar a logística do agronegócio, o Estado reproduz o mesmo modelo denunciado pelo cardeal Leonardo Steiner - aquele que sacrifica territórios, biomas e vidas em nome do lucro.
Os Munduruku também protestam contra créditos de carbono e mecanismos de REDD+ jurisdicional, que vêm sendo discutidos na COP30 sem a participação adequada dos povos. Para as lideranças, tais projetos constituem uma nova forma de pressão sobre a Amazônia: entram empresas, consultorias e intermediários, mas não entram as soluções para o desmatamento, o garimpo, as hidrovias e as obras que seguem avançando dentro dos territórios. "Nossa floresta não está à venda", reafirmam.
"Não existe ecologia integral sem justiça aos povos e sem proteção efetiva dos territórios"
Os dados levantados pelo Inesc ajudam a dimensionar a gravidade do que está em jogo. O corredor Tapajós-Arco Norte é hoje um dos principais vetores da expansão do agronegócio: entre 2010 e 2022, 68% dos investimentos federais em infraestrutura na Amazônia foram destinados a corredores de exportação, impulsionando a construção de terminais, hidrovias e estradas. Só no Tapajós, a movimentação de cargas saltou de 4 mil toneladas em 2019 para 167 mil toneladas em 2022. Esse avanço já reduz pesca, contamina igarapés, impede circulação de ribeirinhos e afeta diretamente aldeias Munduruku ao longo do Tapajós e do Teles Pires.
A pauta do movimento inclui ainda o cancelamento definitivo da Ferrogrão (EF-170), que multiplicará por seis o volume de grãos no Tapajós e ampliará conflitos fundiários, portos privados, dragagens e contaminação por agrotóxicos. Somado à omissão estatal na demarcação das terras indígenas, o avanço desses projetos configura o cenário de violações que a CNDH já reconheceu como "sistemático" em nota recente - e que permanece invisível nas negociações oficiais da COP.
Assim como enfatizou Dom Leonardo Steiner, não existe ecologia integral sem justiça aos povos e sem proteção efetiva dos territórios. A denúncia dos Munduruku na porta da conferência apenas reafirma isso: enquanto o modelo econômico que destrói rios e florestas segue sendo financiado e legitimado, a COP se distancia das soluções reais e ignora aqueles que carregam, no corpo e no território, o impacto direto da crise climática.
"Só no Tapajós, a movimentação de cargas saltou de 4 mil toneladas em 2019 para 167 mil toneladas em 2022"
https://cimi.org.br/2025/11/cop30-presidente-cimi-cardeal-leonardo-steiner/
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