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Jovens Terena fortalecem defesa territorial em expedições de etnomapeamento

04/12/2025

Fonte: CTI - https://trabalhoindigenista.org.br



Entre os dias 2 a 8 de outubro, jovens das Terras Indígenas Buriti, Taunay-Ipegue e Cachoeirinha participaram da etapa de expedições de mapeamento do Segundo Módulo da Formação de Agentes Ambientais Terena. A iniciativa, promovida para fortalecer a gestão e a proteção dos territórios, integrou práticas de georreferenciamento, memória histórica, saberes tradicionais e visitas a áreas de retomada.

A etapa começou na Terra Indígena Buriti, onde os participantes percorreram pontos históricos do território, incluindo áreas homologadas, retomadas recentes e locais sagrados. A paisagem, marcada por morros, espécies nativas e memórias de luta, guiou parte das atividades. "Através do canto dos pássaros a gente sente como o povo Terena mantém respeito e conexão com a Mãe Natureza", relatou Cerizi Francelino, agente intercambista da aldeia Bananal (TI Taunay-Ipegue), enfatizando que caminhar ao lado dos anciões reforçou o sentido da formação: "Tivemos a oportunidade de nos aprofundar nas nossas histórias. Se nossos mais velhos lutaram, temos a obrigação de continuar a caminhada do nosso povo."

Entre os pontos mais marcantes da Buriti estiveram as visitas às áreas onde ocorreram episódios centrais da luta territorial, como a retomada 10 de Maio, local onde o guerreiro Oziel Gabriel foi assassinado durante ação policial em 2013. "É um lugar de luto, mas também de esperança", descreveu Yon Alcântara, lembrando que famílias hoje plantam mandioca, milho e hortas sustentáveis no local retomado.

Nos percursos pelo território Buriti, os jovens também registraram espécies nativas como cumbaru, jatobá e babaçu, que além de grande relevância ecológica carregam significados culturais profundos para as comunidades. "Comparando com minha aldeia, percebi como o território aqui é amplo e cheio de histórias", afirmou Gustavo Terena, da Aldeinha, após acompanhar relatos sobre o avanço de fazendas, conflitos fundiários e memórias de expulsões vividas pelos mais velhos.

A expedição seguiu para a TI Taunay-Ipegue, onde os participantes estiveram na Escola Indígena Professor Domingos Veríssimo Marcos - Mihin e visitaram a Base do PrevFogo (BRIF Terena II). O grupo acompanhou demonstrações de prevenção e combate a incêndios florestais, além de discutir mudanças ambientais, manejo tradicional e desafios na gestão territorial. Em Bananal, visitaram ainda o cemitério onde está enterrado Leão Vicente, guerreiro Terena que lutou na Segunda Guerra Mundial, e a pista de pouso construída em 1976 para a visita do presidente Ernesto Geisel, episódio que marcou a chegada da energia elétrica à comunidade.

Os jovens também percorreram a retomada Maria do Carmo, a Ipanema e o Capão das Araras, áreas centrais na reorganização territorial de Taunay-Ipegue. "As retomadas daqui são maiores que as da Buriti, e têm muita caça, pesca e mel", observou Paulo Ricardo, da aldeia Novo Olho d'Água, destacando a diversidade ambiental e os modos de subsistência presentes na região. Para Carla Mayara, a experiência evidenciou o valor dos conhecimentos compartilhados pelos anciões: "Foi tocante ouvir sobre a luta, os remédios tradicionais, a caça e a pesca. É uma conquista que fortalece a juventude."

Nos dias finais da etapa, as atividades ocorreram na Terra Indígena Cachoeirinha, em Miranda, onde 19 agentes ambientais, a maioria moradores do próprio território, visitaram locais históricos como a lagoa Paratudal (Yukihhu), o córrego Agachi, o antigo trilho da Noroeste e as áreas de retomada Ka'ikoe e Yukulijôe. Muitas paisagens visitadas sofreram transformações recentes causadas pela seca, pelo desmatamento e pela expansão de lavouras nos arredores.

A degradação surpreendeu agentes de diferentes territórios. Ao comentar sobre a TI Buriti, a jovem Julia da Silva, moradora da Cachoeirinha que participou como intercambista na etapa em Buriti, relatou: "Na cachoeira perto da retomada Lindóia, já tem lavoura de milho e soja. A água está contaminada por agrotóxico." Já na TI Cachoeirinha, outros jovens e anciões, como João Leôncio e Élcio, destacaram o agravamento da situação ambiental no córrego Agachi, tradicionalmente um ponto de pesca e lazer. Hoje, o leito está completamente seco, exemplo de uma paisagem que mudou drasticamente e cuja importância ecológica e cultural foi lembrada pelos mais velhos durante a visita.

Para os participantes da Cachoeirinha, conhecer esses locais é parte fundamental da formação. "Enquanto agentes ambientais, temos a missão de criar estratégias de revitalização e proteção", refletiu Cerizi Francelino, agente intercambista da aldeia Bananal, que acompanhou essa etapa. A visita ao antigo trilho da ferrovia reforçou a memória de contribuição do povo Terena na construção da linha e na economia local nas décadas passadas.

Ao longo de uma semana, o curso aproximou os jovens de suas territorialidades, histórias e desafios contemporâneos. As expedições, que antecedem a oficina final de qualificação de dados georreferenciados, consolidam o papel dos agentes ambientais como protagonistas no monitoramento e na defesa das terras indígenas.

"Cada momento como esse é como plantar uma semente. Os frutos virão no futuro", resumiu Cerizi, ecoando o sentimento coletivo de responsabilidade e continuidade da luta territorial Terena.

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